É noite, é escuro, ouves o latir do coração do mundo....
Ouves o respirar do caudal do rio humano nos corredores do tempo...
Ouves e ouves e olhas as cintilações, nomes que se formam no ar, nomes que não se apagaram: nos iluminam - Álvaro Cunhal, Mário Castrim, Francisco Miguel
Lentamente sílabas esses nomes, esses nomes lanternas, lâmpadas, esses nomes faróis...
E vê-los tão nitidamente!
Eles são os camaradas exemplares.
Tão presentes nas nossas opções, nas nossas consciência, na nossa militância, ...
Porque pertencem ao número das pessoas que o tempo torna cada vez mais vivas, cada vez mais nítidas .
Por isso, com eles ao nosso lado, pedimos à vida força e coragem, para continuarmos a lutar.
E vemo-los a sorrir.
ÁLVARO CUNHAL
eis as cintilações e nas solidões imaginas o rosto
dum ideal humano
foram prisões muros torturas
noite dentro persistentemente transportando
a fidelidade
à humana felicidade
lavrador de palavras novas
camarada liberdade socialismo
revolução
sorria enquanto o frio a fome
e o cansaço
o cercavam nos seus laços
persistia iluminando o tempo
MÁRIO CASTRIM
eu era jovem
e ele um oficiante das palavras
ensinando-me generosamente o ofício
trabalho esse lento lento dádiva
paciência
anos e anos
e ele as palavras as palavras
os poemas olha à tua volta
e deixa que essa verdade esse pássaro
voe em liberdade desde o mais fundo de ti
era isto ou não era bem assim
era uma atenção humana tão humana
ao barro
ao suor do barro que eu era em construção
FRANCISCO MIGUEL
lembras-te dele um sorriso iluminando-lhe
o rosto
a sua história
de lutas sacrifícios coragem
podia encher páginas e páginas
de épica humanidade
ainda criança trabalhou no campo
depois foi sapateiro
esteve em Espanha
e então o amor humano
carregou-o aos ombros
e fez da sua vida
uma luta pelos oprimidos
foi preso torturado
evadiu-se
conheceu as piores masmorras
mas nunca foi vencido
e ele olha-me sorrindo
pousa leve a mão sobre o meu ombro
golo a golo junto ao balcão
saboreia um copo de vinho e diz-me - então, e tu?