terça-feira, 31 de dezembro de 2013


            A REVELAÇÃO DA BELEZA


O amor é - A Revelação da Beleza.
Deslumbramento.
Quem não amou nunca verdadeiramente olhou e descobriu o mundo e a sua formusura.
Porque o amor ilumina, o amor descobre.
Olhamos, olhamos e de repente, é a doçura, uma doçura que nasce no mais fundo, no mais íntimo do ser e se revela aos nossos olhos.
E nós, é tanta a felicidade que pedimos para morrer: morrer assim na plenitude dessa revelação, morrer assim no júbilo dessa descoberta, morrer nessa total comunhão.
E porque é que tudo depois se apaga?
Porque é que o mundo se torna cinzento, vazio?
E a nossa vida um arrastar de asas feridas?
Porquê, porquê?
E é a solidão, e é a reminiscência, o consolo no nosso íntimo, na nossa intimidade solitária, desses olhos, dessa luz que um dia nos fora revelada, que um dia nos fora dada.
E sorrimos.
E recordamos.


     ***

e por cima a refulgência
da vastidão

enquanto uma flor desponta

e um verso nasce
dos lábios da água


          ***

pedra a pedra    arfando

revela

as preciosidades    água limpidíssima
renda fina    oiro
olhos da cor do mar e do luar
olhos semeados de estrelas
ó inefáveis momentos
em que as entranhas embriagadas
ardiam
cantavam

no silencio cantavam
e agradeciam


       ***

barca    barca     sem ilha
a que aportar

barca sem mar

e crescem as sombras     a largura do mundo

o que o povoa
que és tu assim só e à procura
tu barca
com palavras que ferem     com palavras
que querem ser    um rosto
um coração
um pão para alimento
da alegria

barca

arca sem fundo

de feridas preciosidades


       ***

sombras    sombras    jovem corsa
um rosto sem idade
do escuro olha

e esse rosto é uma ferida como um diamante
tem luz
é uma ferida como uma flor
no silêncio música      música
no silêncio com que olha

e diz adeus
e ama     o amanhecer do mundo


         ***

o silêncio    as lâminas do ar

quem passa neste branco    quem habita
esta aspereza
é de noite    é sempre de noite
o amor
rosto peregrino que não chegou
a ser

e os escombros
os buracos    abismos sem caminhos

restos    restos

cinzas
às portas das casas de luzes apagadas

e tanta vastidão
tanto brilho nas altas madrugadas


   ***

entre os arremedos do sol
por nascer    escavas
até poderes murmurar palavras
para sobreviver    mar alto    árvore
operário
revolução

e depois olhas as ruas e vês
passam as pessoas
e acompanhas esse passar
como se o luar te alumiasse
e inventasses a noite clara

para continuar
e ser    um coração    uma lágrima
e crer

(inéditos)

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