A REVELAÇÃO DA BELEZA
O amor é - A Revelação da Beleza.
Deslumbramento.
Deslumbramento.
Quem não amou nunca verdadeiramente olhou e descobriu o mundo e a sua formusura.
Porque o amor ilumina, o amor descobre.
Olhamos, olhamos e de repente, é a doçura, uma doçura que nasce no mais fundo, no mais íntimo do ser e se revela aos nossos olhos.
E nós, é tanta a felicidade que pedimos para morrer: morrer assim na plenitude dessa revelação, morrer assim no júbilo dessa descoberta, morrer nessa total comunhão.
E porque é que tudo depois se apaga?
Porque é que o mundo se torna cinzento, vazio?
E a nossa vida um arrastar de asas feridas?
Porquê, porquê?
E é a solidão, e é a reminiscência, o consolo no nosso íntimo, na nossa intimidade solitária, desses olhos, dessa luz que um dia nos fora revelada, que um dia nos fora dada.
E sorrimos.
E recordamos.
***
e por cima a refulgência
da vastidão
enquanto uma flor desponta
e um verso nasce
dos lábios da água
***
pedra a pedra arfando
revela
as preciosidades água limpidíssima
renda fina oiro
olhos da cor do mar e do luar
olhos semeados de estrelas
ó inefáveis momentos
em que as entranhas embriagadas
ardiam
cantavam
no silencio cantavam
e agradeciam
***
barca barca sem ilha
a que aportar
barca sem mar
e crescem as sombras a largura do mundo
o que o povoa
que és tu assim só e à procura
tu barca
com palavras que ferem com palavras
que querem ser um rosto
um coração
um pão para alimento
da alegria
barca
arca sem fundo
de feridas preciosidades
***
sombras sombras jovem corsa
um rosto sem idade
do escuro olha
e esse rosto é uma ferida como um diamante
tem luz
é uma ferida como uma flor
no silêncio música música
no silêncio com que olha
e diz adeus
e ama o amanhecer do mundo
***
o silêncio as lâminas do ar
quem passa neste branco quem habita
esta aspereza
é de noite é sempre de noite
o amor
rosto peregrino que não chegou
a ser
e os escombros
os buracos abismos sem caminhos
restos restos
cinzas
às portas das casas de luzes apagadas
e tanta vastidão
tanto brilho nas altas madrugadas
***
entre os arremedos do sol
por nascer escavas
até poderes murmurar palavras
para sobreviver mar alto árvore
operário
revolução
e depois olhas as ruas e vês
passam as pessoas
e acompanhas esse passar
como se o luar te alumiasse
e inventasses a noite clara
para continuar
e ser um coração uma lágrima
e crer
(inéditos)
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